sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Curry, o tempero mundial



O curry em pó varia conforme as regiões em que é utilizado e o tipo de receita (peixe, frango, carne de vaca...) em que é empregado, podendo conter mais de 20 tipos diferentes de especiarias, ervas e sementes.


As mais utilizadas são o cardamomo, sementes de mostarda, canela, cravo-da-índia, feno-grego, cominho, semente de coentro, semente de erva-doce, noz-moscada, macis (casca da noz moscada), semente de papoula, pimenta chiles, tamarindo, açafrão, cúrcuma e gergelim.

Na Índia, o curry é feito em casa, pois quando vendido pronto já perdeu parte de seus aromas e sabores. A forma em pó, hoje comercializada em todo o mundo, foi difundida no Ocidente pelos ingleses. Segundo a lenda, no fim do século 19, era possível encontrar o curry em pó à venda na Índia. Então, o inglês Sharwood, jantando com o Maharajah de Madras, foi informado sobre um mestre na mistura de especiarias, chamado Vencatachellum. Quando o visitou, descobriu o curry em pó que em seguida levou para Londres, causando enorme sucesso (FONTE: Gazeta do Povo, 2008).

O perfume se sente de longe e as tonalidades que pincelam o alimento imprimem um requinte especial ao prato. Resistir à tentação de prová-lo é praticamente impossível. As receitas com curry são assim. Sem muito esforço, transformam simples filés de peixe e cozidos em deleites para os olhos e o paladar.

Foram os indianos que tiveram a idéia de misturar especiarias e ervas para formar uma pasta e com ela incrementar o sabor e a aparência de suas receitas. No entanto, o curioso dessa história é que foi a pimenta trazida do México no período das grandes navegações, no fim dos anos 1400, a responsável pelo sucesso do tempero. Uma simbiose perfeita entre Ocidente e Oriente.

Na Índia, ainda hoje, cada dona-de-casa tem sua própria maneira de preparar o curry, também conhecido como massala. E essa mesma variação acontece mundo afora. O curry mais apimentado do planeta é o mexicano. Já na Índia e Tailândia, ele é mais suave e cremoso devido ao uso do leite de coco na maior parte das receitas, conta a chef tailandesa Tasanai Phian-O-Pas, que vem sempre a São Paulo para supervisionar a cozinha de um de seus restaurantes.

Em sua passagem pela capital paulista, em julho, ela falou sobre a riqueza desse tempero, suas variações (há o vermelho, o amarelo e o verde) e ensinou como preparar a receita. No preparo tradicional, os ingredientes são jogados numa cumbuca de pedra e amassados até obter uma pasta, que é cozida com carne ou legumes. O segredo do sabor está na pressão do pilão sobre os condimentos. Quanto mais macerados, melhor o resultado, diz Tasanai.

No Brasil, o curry, ou caril, chegou pelas mãos dos ingleses, que ao colonizar a Índia resolveram industrializar o produto e distribuí-lo para a Europa e as Américas. Aliás, poucos pratos representam tanto a Inglaterra como o frango ao curry. Por isso, no Ocidente é mais comum encontrá-lo em pó, pronto para consumir.

O curry vermelho, feito com pimenta vermelha, é o que ficou mais popular entre os brasileiros, lembra a chef. Mas ela dá algumas dicas. Para pratos marinados, o amarelo é o mais indicado. Já para cozinhar junto com frango, carne e camarão, a pedida é o verde. Tudo é uma questão de gosto. Na Tailândia, esse tempero é corriqueiro. Ele está presente tanto na cozinha do dia-a-dia como na culinária real tailandesa, fala.

Apesar das variações de região para região, os ingredientes básicos do curry são alho, galanga (uma raiz da família do gengibre), erva-cidreira, cúrcuma, coentro, cominho, cardamomo, noz-moscada, manjericão e páprica. E, lógico, a pimenta, a estrela do condimento, a pièce de resistance, que dá o tom apurado do sabor e a cor predominante da receita (FONTE: Bons Fluidos, 2007).

Existem relatos muito antigos do poder afrodisíaco de alguns alimentos; e muitos com associações com o sexo de forma inusitada, seja pelo formato, química ou cheiro. O curry teria efeito afrodisíaco pelo seu efeito fisiológico de aumentar as batidas do coração e suor que são similares aos sinais de excitação sexual (FONTE: Nutrição afrodisíaca BBel, 2008).

Um pequeno estudo clínico realizado por pesquisadores do Johns Hopkins mostra que uma pílula combinando compostos químicos encontrados em tempero extraído do açafrão da Índia, uma especiaria usada em curry, e de cebolas reduzem tanto o tamanho quanto o número de lesões pré-cancerígenas no trato intestinal humano. No estudo, cinco pacientes com uma forma de pólipos pré-cancerígenos no intestino conhecidos como polipose adenomatosa familiar (FAP) foram tratados com doses regulares de curcumina (o composto químico encontrado no açafrão da Índia) e quercetina, um antioxidante encontrado em cebolas, durante uma média de seis meses.

O numero médio de pólipos diminuiu 60,4%, e o tamanho médio reduziu 50.9%, de acordo com a equipe liderada por Francis M. Giardiello, M.D. da Division of Gastroenterology, The Johns Hopkins University School of Medicine, e Marcia Cruz-Correa, M.D., Ph.D., do Johns Hopkins e da University of Puerto Rico School of Medicine (FONTE: Clinical Gastroenterology and Hepatology, 2006).

Curry em pó caseiro

Ingredientes

# 2 pimentas vermelhas secas
# 1 colher (sopa) de semente de coentro
# 1 colher (sopa) de semente de erva-doce
# 1 colher (sopa) de semente de cominho
# 1 colher (sopa) de macis em pó
# 1 colher (sopa) de pimenta-branca em pó
# Meia colher (chá) de cúrcuma

Preparo

Misture numa tigela as pimentas vermelhas, as sementes de coentro, as sementes de erva-doce e as sementes de cominho. Cubra com água fria e escorra. Coloque a mistura em uma panela de ferro grossa. Coloque em fogo baixo até as sementes secarem e começarem a escurecer, aproximadamente por 3 a 4 minutos. Deixe esfriar. Acrescente o macis, a pimenta-branca e o cúrcuma e passe tudo por um processador de alimentos. Pode ser usado em até uma semana sem alterar seu sabor.

Fonte: http://pt.petitchef.com/receitas/tempero-mundial-curry-fid-137704

A governanta


Ela chega amanhã. Vai ganhar Cr$ 100 mil, mas vale a pena — quem falava assim era a mulher de Alcindo. Já tinham discutido às pampas, o Alcindo e a mulher, por causa da tal empregada.

Dona Míriam — mulher do Alcindo — tinha conseguido a empregada com uma parceira de pif-paf, uma tal de Iolanda, com a qual o Alcindo sempre implicou. Mulherzinha gastadeira, que esbanjava o dinheiro do marido no jogo.

Dona Míriam era vidrada na Iolanda. Achava a Iolanda o fino da elegância. Imitava a Iolanda, fazia vestidos na costureira da Iolanda, penteava o cabelo no mesmo cabeleireiro da Iolanda e dera até para gastar como a Iolanda.

O Alcindo ia suportando tudo porque os programas de pif-paf da Dona Miriam lhe davam uma frente bárbara. Enquanto a mulher estava fazendo sequências, trincas, "lobas" e outras besteiras, ele ia se espalhando pelas boates, fazendo suas miserinhas pela aí. O Alcindo era muito assanhado.

Ultimamente, porém, a Iolanda começara a mandar também em sua casa. Aconselhara Dona Míriam a mudar os móveis da sala (Alcindo teve até que assinar um papagaio no Zé Luís para quebrar o galho), fizera Dona Míriam aderir às suas dietas para manter a linha (Alcindo já se sentia um mísero herbívoro de tanto mastigar saladas), e tudo culminara com a dispensa das duas empregadas que não eram lá essas coisas, mas pelo menos respeitavam o patrão.

Dona Míriam — sempre achando que a Iolanda era o máximo — ia seguindo os conselhos. Lá se foram as duas domésticas simplórias e viera a novidade: a Iolanda arranjara uma espécie de governanta. Uma moça que trabalhara para os Martorelli.

— Uma governanta perfeita. Fala até um pouco de inglês — informou Dona Míriam, exaltando as qualidades da nova contratada.

E naquela tarde discutiram pra valer, com Alcindo irritado de tanta badalação dentro de casa. Mas, como Dona Míriam ia passar a noite na casa do pai (o velho estava quase abotoando o paletó) e ele ia a um pré-carnavalesco legal organizado pelo Pindoba — grande técnico na estruturação de badernas íntimas —, acabou concordando.

— Ela chega amanhã. Vai ganhar Cr$ 100 mil, mas vale a pena — foram as últimas palavras de Dona Míriam, antes de sair para a casa do pai moribundozinho.

Alcindo inda ficou zanzando pela casa, tentando se acostumar à idéia de uma governanta em casa; uma mulherzinha provavelmente cheia de chiques, que iria inibir sua comodidade dentro do próprio lar. Grande chateação! Não fosse a perspectiva da farra no tal pré-carnavalesco, e o Alcindo estaria uma fera.

Quando saiu pra festa estava mais calmo. Meteu uma bermuda, uma camisa folgada e mandou brasa. O forró foi numa dessas boates também chamadas de "inferninho", onde o diabo não entra para não se comprometer.

No escurinho tava valendo tudo. Com dois minutos do tem­po regulamentar o Alcindo já estava armado. Pegou uma zinha mais ou menos, lourinha, de narizinho fino e um rebolado que não era assim aquele estouro mas que tam­bém não era de se deixar pra lá.

A noite inteira agarrado, enquanto uma charanga segundo time tocava uma marchinha chamada "O Cachorrinho do Lalau". Quando a charanga meteu o "Cidade Maravilhosa", que dá por encerrados os debates, o Alcindo estava de moringa cheia e doido pela lourinha. Fez tudo para comprar o seu passe, mas na confusão da saída, caindo pelas tabelas de tão bêbedo, a lourinha sumiu e ele nem sabe como chegou em casa.

Mas que chegou, isto chegou. Tanto que, no dia se­guinte de manhã, acordou com Dona Míriam a catucá-lo: — Levanta, Alcindo. A Dolores já está aí.

— Dolores?, Que Dolores?

— A governanta. Já estudamos os horários. Ela acha que não devemos dormir depois das dez. O breakfast pode tirar o apetite para o almoço.

Alcindo levantou-se estremunhado. Entrou debaixo do chuveiro (era dia de adutora consertada) e tomou uma ducha legal. Quando chegou na sala de jantar, foi aquele espanto. Sua mulher ouvia encantada as "ordens" da governanta. E a governanta era igualzinha à lourinha da véspera. Seria a mesma? Era muito azar do goleiro. Alcindo cumprimentou-a meio ressabiado. Ela respondeu com um sorriso amável. Não, não era a mesma. Estava era imaginando besteira. Mas foi Dona Miriam ir lá pra dentro e a governanta começou a cantarolar baixinho a marcha "O Cachorrinho do Lalau".

Coitado do Alcindo, anda numa rosca soviética! Só ato institucional pra cima dele a governanta já assinou uns três para cercear os seus direitos humanos.

Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).


Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.